Rebentos do cinema português – 2021

No dia 24 de Julho de 2021 das 18h às 21h, a Claraboia convidou cinco jovens realizadores para virem à Casa da Juventude da Tapada das Mercês mostrar o seu trabalho e refletir sobre o cinema a ser produzido atualmente em Portugal.

Viajámos por entre as algas de moledo, passando pela periferia de Lisboa e terminando no Alentejo, onde nos entregaram sábias palavras sobre o trabalho manual e a felicidade.

Rebentos é o Ciclo de cinema emergente da Claraboia que teve o seu primeiro evento em 2021. Após o sucesso da primeira edição intitulada Rebentos do cinema Português e averiguarmos a necessidade de um espaço de projeção de cinema emergente no concelho de Sintra, em 2022 foram organizadas sete sessões dos Rebentos – Mostra Internacional de Cinema Emergente. 

Para Outra Maré, 2020

Realização, texto, fotografias, montagem, música e voz FRANCISCA ALARCÃO Interpretação LOURENÇO ALARCÃO Montagem PEDRO TEIXEIRA Montagem e mistura de som HUGO COSTA

Para Outra Maré, de Francisca Alarcão, é uma peça a vários ritmos: o da voz que narra ao início; o da carta que se escreve (aos avós, mas também ao espectador); e o da fotografia que, por fim, retoma o movimento das ondas. Lisboa surge apenas como lembrança, uma ínsula de onde se partiu um dia para Moledo. O sangue do joelho e os pés numa poça da praia aparecem-nos como indício de um mito familiar, o bikini como contraponto a essa primeira estranheza. Mas talvez tudo isto só seja possível nas férias de verão, quando estamos tão próximos da natureza e deixamos que a respiração se enleia no ritmo das ondas.

Baxu Ku Riba, 2020

Realização DIOGO CARVALHO e HUGO ALEXANDRE Argumento DIOGO CARVALHO e TRISTANY Música e sonoplastia TRISTANY Montagem e cor DIOGO CARVALHO Design e grafismo NUNO TRIGUEIROS

A série de quatro episódios Baxu Ku Riba, realizada por Tristany, Diogo Carvalho e Nuno Trigueiros, revela-nos um novo teatro de operações ao introduzir – com uma estética subliminar – a vida de uma personagem que poderá ser entendida como representante de um grupo. Trata-se de um ato urgente que ousa encenar as vivências de Mem-Martins, levando-nos a entrar num mundo de crime e prazer, onde cada ação adquire novos significados e convida a que demoremos nela o pensamento. A falta de diálogos, as várias velocidades da série, o trabalho da cor e a música atuam como pano de fundo ante a imposição da violência. Como se descascadas todas estas camadas as imagens pudessem mostrar-nos a fórmula essencial que rege este universo ou, pelo menos, uma das possibilidades de explorar a realidade por detrás deste “novo” espaço cénico.

À Tarde, Sob o Sol, 2020

Realização e argumento GONÇALO PINA Fotografia MATEUS AMARAL OLIVEIRA Som HUGO COSTA Montagem JOÃO MACEDO, GONÇALO PINA Produção GONÇALO PINA, RUI FERREIRA / Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC) Elenco MIGUEL BALTAZAR, ANA ARINTO, DAVID S. COSTA

À tarde, sob o sol de Gonçalo Pina surge aqui como evidência de um tempo de solidão, onde não há fala e o objeto de desejo se vira ora sobre si ora sobre o outro, desaguando numa espécie de limbo ou purgatório. Um pequeno drama amoroso que vive fechado sobre si, esperando que algo se aprenda com o seu corpo, e com a sua timidez. Há um fulgor juvenil que desvanece num tempo de espera infinda. Acabamos frente a este par de rapazes absortos a contemplar e fumar cigarros. Um trabalho que poderá falar, ainda que indiretamente, de algumas das ânsias e acontecimentos de 2020/21.

Hipocampo, 2020

Realização, produção, câmara e edição DIANA MATIAS Câmara e edição JOÃO TAVARES Som e banda sonora BERNARDO RAMOS Assistente de realização e fotografia de cena GABRIELA SCHUMAKER

Regressamos com Hipocampo de Diana Matias ao âmago de um retrato familiar. A sequência de frutas, galos e coelhos a comer couves conta-nos um pouco da vida desta personagem que se apresenta e com a qual permanecemos num discurso de sabedoria e experiência particular. A irrupção do roubo do vinho e dos animais provoca algo de trágico no destino desta paisagem rural, que a música transfigura. Assim se equilibra essa força que vem perturbar a vida com a ressonância aérea da beleza que fica. É nos oferecido um retrato íntimo que acaba por ir além das implicações desse ato de insolência, traçando o perfil deste homem e do mundo que o rodeia.

Monte, 2021

Realização e argumento MARTA SALAZAR Produção THOMAS BOOTH, ANA CARLA BORRALHO DE GOUVEIA Canção GRUPO CORAL MOMBEJA “CEIFEIRA” Som MANUEL ROZALES

Monte de Marta Salazar é o delírio juvenil desejado por um bando de novatos e frequentes da apanha da azeitona, que se aventura a cada estação pelo Alentejo. Denuncia-se um instinto de autoridade ou um princípio de organização do trabalho desenhado pela lente que percorre e se demora nos rostos. O trabalho do campo, sem recurso às máquinas oferecidas pela mais recente tecnologia, é um trabalho físico, duro, ancestral. Mas pode também ser prazeroso, criar uma união (ainda que temporária), oferecer momentos de música e descanso, fazer viver uma experiência eminentemente humana ao dar a conhecer, de uma forma tão pura, essa gente que habita um território quase desertificado e o canta.

Ficha Técnica

Direção do Ciclo Nuno Cintra

Produção Claraboia

Design Gráfico Sophia Dal Piaz

Comunicação Joana Enes e José João Batista

Apoio Técnico Rodrigo Domingos

Fotografia João Beijinho

Folhas de Sala Afonso Matos 

Apoios e agradecimentos Casa da Juventude da Tapada das Mercês e Câmara Municipal de Sintra